"Fora Hamas". Centenas de palestinianos saem às ruas em raro protesto no norte da Faixa de Gaza
Centenas de palestinianos participaram, na terça-feira, naquele que está a ser considerado o maior protesto contra o Hamas desde o início do conflito com Israel. Numa rara demonstração pública de oposição, os palestinianos exigiram que o movimento radical deixe o poder em Gaza para que possa ser possível restaurar o cessar-fogo.
Militantes do Hamas, alguns armados com armas de fogo e outros envergando cassetetes, intercederam e dispersaram os manifestantes à força, agredindo vários deles.
Os protestos ocorreram um dia depois de homens armados da Jihad Islâmica terem lançado rockets contra Israel, levando Telavive a decidir evacuar grandes áreas de Beit Lahia, o que gerou revolta pública.
Telejornal, 26 de março de 2025
O exército israelita retomou os bombardeamentos na Faixa de Gaza a 18 de março, quebrando o cessar-fogo que durou cerca de dois meses. Israel exige a entrega dos restantes reféns detidos pelo Hamas e a saída do grupo militar palestiniano do poder. O Hamas, por sua vez, acusa Israel de ter violado o acordo de cessar-fogo.
"Se a saída do Hamas do poder em Gaza é a solução, então porque é que o Hamas não deixa o poder para proteger o povo?", questionou um dos manifestantes citado pela AFP, afirmando que “as pessoas estão cansadas”.
"Nós recusamo-nos a morrer por qualquer pessoa, pela agenda de qualquer partido ou pelos interesses de estados estrangeiros", disse outro manifestante. "O Hamas deve renunciar e ouvir a voz dos enlutados, a voz que surge de baixo dos escombros - é a voz mais verdadeira”, apelou.
Munther al-Hayek, porta-voz do Fatah (a maior fação da Organização para a Libertação da Palestina ), também pediu ao Hamas que renuncie ao poder, argumentando que o seu domínio no enclave ameaça a causa palestiniana.
Al-Hayek pediu ao grupo militar que atendesse às exigências do povo e renunciasse pelo bem público, alertando que caso contrário, “a batalha que se avizinha levará ao fim da existência dos palestinianos” em Gaza.
O Hamas assumiu o controlo de Gaza em 2007, em eleições que derrotaram o grupo Fatah do presidente palestiniano Mahmoud Abbas. O grupo armado tem governado o enclave desde então, oferecendo pouco espaço para a oposição.
Pelo menos 12 mortos esta quarta-feira
O exército israelita continua a sua ofensiva em Gaza, depois de ter quebrado o cessar-fogo a 18 de março.
Desde as primeiras horas desta quarta-feira, pelo menos 12 pessoas foram mortas nos bombardeamentos israelitas em Gaza, incluindo uma mãe e o seu bebé de seis meses e outras quatro crianças. Desde que Israel retomou os ataques em Gaza, mais de 700 palestinianos, a maioria mulheres e crianças, foram mortos, segundo as autoridades de saúde palestinianas.
Israel mantém a pressão militar, exigindo a entrega dos reféns que ainda estão na posse do Hamas para suspender os ataques em Gaza. Dos 251 reféns feitos no ataque de 7 de outubro de 2023, 58 ainda estão detidos na Faixa de Gaza, 34 dos quais estão mortos, segundo o exército israelita.
Um cessar-fogo em Gaza entrou em vigor a 19 de janeiro, após um acordo ter sido alcançado pelos países mediadores. Mas depois de semanas de desentendimentos, Israel quebrou o cessar-fogo dois meses depois, com bombardeamentos maciços seguidos de operações terrestres.
Israel e o Hamas estão num impasse, não chegando a um entendimento sobre como prosseguir o acordo de tréguas – cuja primeira fase expirou a 1 de março.
O Hamas quer passar à segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente, a retirada das tropas israelitas de Gaza, a retoma do envio de ajuda humanitária e a libertação dos restantes reféns.
Israel, por seu turno, quer que a primeira fase seja prolongada até meados de abril para que mais reféns sejam libertados e exige a "desmilitarização" de Gaza e a saída do Hamas antes de passar à segunda fase. O Hamas não aceitou a proposta e insiste que seja cumprido o acordo inicial.
c/ agências